Porta-Aviões leves
Uma abordagem alternativa

 

Normalmente, divide-se os porta-aviões em dois grupos. Grandes porta-aviões convencionais, onde podemos incluir não só os navios norte-americanos, mas também os porta-aviões franceses e o Admiral Kuznetzov soviético, aptos a utilizar caças modernos de mesmo desempenho das aeronaves baseadas em terra. Pequenos porta-aviões - ingleses, espanhóis, italianos e tailandeses - operando aviões VTOL da família Harrier, formam o segundo grupo. O Minas Gerais seria o último de sua classe, utlizando aviões convencionais leves, como os Skyhawk recém-comprados.

 


Admiral Kuznetzov: apesar de não ser um porta-aviões convencional, se enquadra entre os grandes porta-aviões, operando caças "Flanker" de última geração. Criado dentro da filosofia soviética da Guerra Fria, otimizado no combate antisubmarino e antinavio, também se adapta à projeção de força ao redor do globo, razão pela qual é o único porta-aviões ainda em operação com a decadente Marinha Russa, que se esforça em mantê-lo operacional.

 

Grandes porta-aviões são caros e utilizam aeronaves igualmente caras, tornando-se um investimento para poucos países, e não serão analisados neste texto.

Os pequenos porta-aviões, também chamados porta-aviões ASW, estão sujeitos às limitações das aeronaves que transportam. Podem ser empregados em projeção de força, como na Guerra das Malvinas, mas definitivamente não são ideais para tal missão. Em 1982, os aviões argentinos sempre operaram de uma distância maior de seus alvos do que os próprios ingleses, e não dispunham de armamento antinavio adequado. Mesmo com apenas 5 mísseis Exocet e utilizando Skyhawks e Fingers em ataque rasantes suicidas no limite do alcance das aeronaves quase derrotaram a Royal Navy. Se os argentinos estivessem operando suas aeronaves das ilhas dificilmente os Harrier teriam como alcançar seus alvos e seriam interceptados por Mirages realmente supersônicos (os Mirage III eram obrigados a carregar 3400l de combustível externo para alcançar as ilhas, o que degradava em muito seu desempenho). Por isso, a Royal Navy já declarou que pretende voltar ao porta-avião convencional, mais adequado a missões de intervenção realizadas no Iraque e na Bósnia.

Os porta-aviões ASW são considerados adequados para Controle de Área Marítima, enfrentado ameaças de superfície e, principalmente submarinas. Porém, essa afirmação merece ressalvas. Dependem de helicópteros para tarefas vigilância, e mesmo grandes helicópteros como o Sea King, têm autonomia limitada, desperdiçando parte do alcance (já reduzido) dos Harrier em ataque antinavio. Alguém pode dizer que a detecção pode ser feita por aviões de patrulha P-3 Orion ou Nimrod. Isso limita a ação dos porta-aviões a uma certa distância do litoral, e até os torna dispensáveis na função antinavio, já que os aviões de patrulha podem executar o ataque antinavio, ou serem apoiados por aeronaves de ataque baseadas em terra (usando reabastecimento em vôo se necessário). Assim voltamos a idéia inicial dos navios da classe Invincible, que seria o combate antisubmarino com helicópteros. Os Harriers, 5 ou 6 por navio, interceptariam os aviões de patrulha inimigos e atacariam alvos de superfície secundários. Tudo isso, com a cobertura de aeronaves baseadas em terra e dos porta-aviões norte-americanos. Com o fim da Guerra Fria esse tipo de função perde importância. O porta-aviões deve ser o núcleo de uma força-tarefa capaz de operar aonde os aviões baseados em terra não conseguem alcançar, caso contrário é mais interessante operar a partir de terra firme.

É muito interessante comparar os "Porta-Harriers" ao Minas Gerais, equipado com Skyhawks, Sea Kings e Trackers. O S-2 Tracker tem uma autonomia de 9 horas (o dobro de um Sea King), pode operar a uma boa distância da nave-mãe e patrulha a uma maior velocidade - cobrindo uma maior área do oceano do que um helicóptero. Os Sea King são ideais no combate antisubmarino, com sonares de mergulho. Os Skyhawks, mesmo sem grandes mudanças na aviônica, pode realizar ataques com mísseis antinavio usando informações do radar de um Tracker, via data-link. Em ataque ao solo, o A-4 já está consagrado, além de ser considerado um oponente de respeito no combate aéreo (em que pese a falta de um radar adequado). Apesar da plataforma (o navio) ser maior e mais complexa, as aeronaves são mais simples e de melhor performance, resultando em custos de operação e manutenção menores com maior poder de fogo.

O Minas Gerais já está, entretanto, em operação a vários anos, devendo ser substutuído em um futuro não muito distante. Os Skyhawk e Super Étendard, os únicos aviões a jato capazes de operar em navios desta classe, estão na mesma situação. Os robustos Tracker, por outro lado, parecem ter condições de operar um pouco mais de tempo se forem repotencializados.

O maior problema seria então encontrar um caça leve adequado para um porta-aviões leve convencional. O desempenho seria subsônico, mas com boa manobrabilidade e condições de receber um radar multifuncional para operar como interceptador, de preferência com mísseis de médio alcance (MICA, por exemplo). A carga de armas não precisa ser necessariamente grande, mesmo em missões de ataque, visto que o uso de armas "inteligentes" aumenta em muito a precisão do ataque. O candidato ideal seria um BAe Hawk 200 navalizado, um caça leve por excelência, e com uma autonomia de vôo valiosa para um caça naval. Na verdade, poderia-se derivar um versão monoposto do treinador naval T-45 Goshawk, o que tornaria os custos de desenvolvimento bem reduzidos. Com um peso de decolagem abaixo de 10 toneladas e asas retas de alta sustentação, operaria sem dificuldade de pequenos porta-aviões. Outro ponto favorável seriam os baixos custos de manutenção e operação dos aviões da família Hawk.


O Hawk 100/200 (à esquerda) alcançou grande sucesso como caça/treinador de baixo custo, oferecendo boa manobrabilidade e alcance com cargas razoáveis de armamento. Uma versão naval partiria do T-45 Goshawk (à direita), já totalmente adaptado à operação em porta-aviões, em uma versão monoposto com radar multifuncional, um motor mais potente e cabides de armamento.

Um "Porta-Hawk" seria definitivamente mais barato do que um "Porta-Harrier", mesmo deslocando 2 mil ou 3 mil toneladas a mais, se levarmos em conta o custo das aeronaves. A capacidade de combate também seria maior. Apesar do uso de catapultas e ganchos de parada tornar lento o ritmo de lançamento e recuperação de aeronaves, isto é compensado pelo maior raio de ação e a possibilidade de utilizar aviões de patrulha convencionais, podendo realizar missões independentes junto com sua força-tarefa, seja de controle de área marítima ou de projeção de força, com um poder dissuasivo considerável.

Porém, devemos ser realistas e admitir que, muito em função do sucesso dos Harrier na Guerra das Malvinas, a tendência é o predomínio dos "Porta-Harrier" como opção de porta-aviões leves, principalmente na função de projeção de força.

Mesmo a guerra tem seus modismos.