MORTEIROS
e
FOGUETES DE ARTILHARIA
A artilharia "padrão" ocidental até pouco mais de
uma década atrás era equipada basicamente com obuseiros de
155mm e 105mm.
Os primeiros tem excelente alcance e disparam diversos tipos de
munições eficientes. Todavia, são complexos e pesados, o que
os torna caros e exige guarnições numerosas. São agrupados no
nível de divisão e usados em missões específicas como
contra-bateria e alvos de alto valor. O apoio aproximado às
armas de manobra é feito pelas peças de 105mm, alocadas em
nível de brigada.
Recentemente, o desenvolvimento de lançadores de foguetes e
morteiros mais eficientes vem a oferecer novas opções aos
exércitos modernos, complementando e eventualmente substituindo
os obuseiros.
Analisemos cada um deles separadamente.
Morteiros
O morteiro moderno de 120 mm oferece condições plenas de substituir os obuseiros de 105mm. Observemos abaixo, um quadro comparativo com as principais características de diversos morteiros e obuseiros atuais:
Calibre(mm) | Designação | Tipo | Origem | Peso (kg) | Alcance(m) | Cadência máx./normal |
Guar nição |
105 | M101A1 | Obuseiro | EUA | 2.263 | 11.000 | 10/3 | 7 |
105 | M102 | Obuseiro | EUA | 1.441 | 11.500 | 10/3 | 6 |
105 | L118A1 | Obuseiro | Reino Unido | 1.858 | 17.200+ | 8/3 | 8 |
120 | M12 | Morteiro | Áustria | 670* | 9.800 | 18/10 | 4 |
120 | M73 | Morteiro | Finlândia | 340* | 9.000 | 15/10 | 4 |
120 | LT | Morteiro | França | 250* | 9.000+ | 20/8 | 4 |
155 | M198 | Obuseiro | EUA | 7.155 | 30.000+ | 4/2 | 18 |
160 | M66 | Morteiro | Israel | 1.700 | 10.000 | 8/4 | 6 |
* pronto para transporte
+ com munição impulsionada por foguete
Primeiramente, nota-se que os morteiros, devido ao seu alcance limitado não podem ser comparados aos obuseiros de 155mm. A desvantagem, porém, frente às peças de 105mm é bem menor, e mais do que compensada pela leveza e simplicidade intrínseca ao morteiro.
O morteiro dispensa os mecanismos de recuo e o tubo de alma raiada do obuseiro, compondo-se de três partes básicas: tubo liso, placa-base e bipé. Assim, os custos de aquisição e manutenção são bem menores. O peso também é menor, facilitando o transporte (pode ser rebocado por um jipe ou transportado por um helicóptero leve), o que é particularmente crítico em forças de emprego rápido.
A cadência de tiro do morteiro também é muito superior à de um obuseiro. Isso se deve ao fato de não existirem culatras para serem abertas e fechadas, ou estojos vazios a serem retirados: basta soltar as granadas na boca do tubo. Em função disso, as guarnições necessárias também são menores.
Morteiro finlandês
em ação:
o pequeno peso e guarnição (4 homens) garantem alta
mobilidade ao morteiro de 120mm, permitindo que se aproxime mais
da zona de combate sem se expôr. Além disso, a trajetória do
projétil de morteiro o torna indicado para áreas densamente
arborizadas ou urbanas.
Outra vantagem do morteiro está na munição. Um granada de
120mm pesa em torno de 14kg, o mesmo de um obuseiro de 105mm,
porém, devido às diferentes trajetórias dos projéteis apenas
2/3 de projétil de obuseiro atinge o alvo, sendo os 1/3
restantes destinados à carga de projeção e ao estojo. No
projétil de morteiro a carga útil atinge 90% do total,
garantindo melhores resultados por tiro disparado. Além disso,
facilita o uso de submunições ou de munição inteligente, o
que ainda é inviável em obuses de 105mm.
Munições guiadas a laser, destinadas a atacar alvos blindados
estão sendo desenvolvidas, permitindo que uma bateria de
morteiros dê apoio antitanque às tropas amigas, atingindo os
tanques na sua blindagem superior, muito menos resistente.
Além da antiga União Soviética, cuja tradição no uso de morteiros vem desde a Segunda Guerra Mundial, a Finlândia e Israel se mostram como os países mais avançados na fabricação e uso de morteiros. O caso de Israel é particularmente interessante, pois apesar da influência ocidental, pôde comprovar através de vários conflitos armados as vantagens do morteiro, desenvolvendo vários modelos de 120 e 160mm, rebocados e autopropulsados.
As potências ocidentais já estão desenvolvendo vários projetos no sentido de ampliar o uso de morteiros. Porém a ênfase está sendo dada em modelos autopropulsados e com o uso de carregadores automáticos, o que amplia ainda mais as vantagens de mobilidade e cadência de tiro dos morteiros reduzindo, tornando-o muito mais complexo e caro.
Foguetes de artilharia
O uso militar de foguetes vem desde a antiguidade, quando o chineses usavam seus foguetes de fogos de artifício mais para assustar do que para ferir seus inimigos. Só na Segunda Guerra Mundial, os foguetes tornaram-se armas de artilharia importantes. Apesar de serem capazes de despejar uma grande quantidade de explosivos sobre seus alvos, ainda eram armas imprecisas e de recarga lenta. Porém, novas tecnologias permitem hoje que os foguetes de artilharia sejam muito mais precisos e fáceis de recarregar, tornando-se armas indispensáveis neste final de século.
Para melhor avaliar as capacidades desta arma tomaremos como base os sistema ASTROS II da empresa brasileira AVIBRAS, que produziu um dos mais bem sucedidos produtos deste segmento, e já aprovado em combate.
O sistema ASTROS II opera em baterias montadas em caminhões blindados 6X6 (plataformas baratas e de boa mobilidade), assim compostas:
1 veículo diretor de tiro
1 veículo de comando e controle
4 a 8 veículos lançadores de foguetes
4 a 8 veículos remuniciadores
veículos auxiliares ou de apoio (oficina de campanha eletrônica
e mecância)
As grande salto no poder de fogo do sistema ASTROS II advém
de inovações quanto à Direção de Tiro e ao Remuniciamento.
A direção de tiro é feita por radar e processamento
computadorizado de dados que analisa a trajetória de um foguete
de "prova", que é lançado antes da salva principal, e
corrige os dados balísticos.
O remuniciamento é feito rapidamente através da substituição
dos containers de foguetes. Isso também permite que sejam usados
módulos (containers) contendo mísseis de diferentes calibres, o
que torna o sistema muito mais versátil.
Astros II no Oriente
Médio:
tanto durante o conflito Irã-Iraque como durante a Guerra do
Golfo, esse sistema de saturação de área demonstrou sua
eficiência, superando inclusive o desempenho do seu similar
norte-americano MRLS, que pecou pela complexidade e falta de
mobilidade da tração de lagartas.
A bateria Astros II da foto está disparando foguetes S-30 de
127mm, o menor dos 3 tipos existentes. O alcance nessa versão é
de 30km, sendo transportados 32 foguetes por lançador.
A combinação da Direção de Tiro por Radar e o Remuniciamento por Containers garante precisão e rapidez entre as salvas. O diferentes tipos de foguetes podem atingir alvos entre 9 e 60km, sendo especialmente eficientes na saturação de área e em tarefas de contra-bateria. Além disso, são adequados na liberação de submunições de diversos tipos.
Um lançador ASTROS II pode despejar um grande volume de fogo em um espaço curto de tempo, abandonando rapidamente a zona de disparo para buscar abrigo ou uma nova posição de tiro - evitando o contra-ataque adversário.
Pelo exposto acima pode-se concluir que os Foguetes de Artilharia são capacitados não apenas para complementar mas para substituir as baterias de 155mm, principalmente as rebocadas.
Combinação Morteiro - Foguete de Artilharia
Se o morteiro e foguete de artilharia modernos são, separadamente, adequados para substituir os obuseiros de 105mm e de 155mm, seu uso combinado é ainda mais mortífero.
Enquanto os foguetes atuam contra a artilharia inimiga e alvos na retaguarda inimiga, os morteiros rebocados, simples e eficientes, garantem o volume de fogo de apoio às forças amigas. A artilharia convencional não seria totalmente eliminada, sendo prudente a manutenção de alguns obuseiros autopropulsados, que podem entrar em ação mais prontamente quando as forças blindadas estão se movendo muito rápido (ao romper a linha inimiga, por exemplo).
O Brasil, em especial, oferece condições favoráveis ao uso desta filosofia. Primeiro, pois possui um sistema de foguetes de fabricação nacional de alta qualidade. Segundo, pois os morteiros representam um investimento pequeno e que pode contar com a base industrial nacional. Terceiro, é uma filosofia adequada a forças de pronto emprego e que operem em áreas adversas (como a floresta amazônica, por exemplo) e conflitos de baixa ou média intensidade.