Su-27 versus Mig-29 nos céus da África


Um Mig-29 UB e um Mi-24 Hind sendo rebocados para se proteger de ataques dos jatos da Força Aérea da Etiópia

Após uma eleição controlada pela ONU em 1991 e com retirada completa das tropas da Etiópia em 1993, a Eritréia se declarou independente - deixando porém o país totalmente destruído num estado de miséria tão grande quanto o da própria Etiópia. O descontentamento etíope, entre outras coisas, pela perda dos acessos ao Mar Vermelho gerou um longo conflito de atrito entre os dois países.

Tudo isso não seria mais do que um dos vários conflitos armados no continente mais pobre do planeta se não fosse pela surpreendente corrida armamentista observada com a introdução de vários armamentos modernos, principalmente da antiga União Soviética, que atuando em ambos os lados permitiram uma situação única.

Já no ano de 1995, Eritréia deu primeiro passo com a aquisição de seis aeronaves MB339 FD. A Etiópia em resposta enviou 15 Mig-21 MF para Israel para serem modernizados, num padrão semelhante aos Lancer romenos (ou seja, com radares e aviônicos de última geração) - sendo que na verdade apenas 10 foram realmente modernizados devido a falta de recursos.


Aviões MB339 italianos pela Eritréia e a modernização dos Mig-21 pela Etiópia foram um dos marcos iniciais da corrida armamentista entre os dois países.

 

O passo mais ousado foi dado em 1998 quando a Força Aérea da Etiópia recebeu 8 Su-27 (sendo 2 biplaces) junto com vários helicópteros Mi-8 e Mi-24, adquiridos junto a Rússia. Eritréia respondeu com a aquisição de 8 Mig-29A e 2 Mig-29UB (também aviões russos de segunda mão).

O primeiro combate esperado entre ambos ocorreu apenas no início de 1999, quando 2 Su-27 etíopes (pilotados por mercenários russos) encontraram 4 Mig-29, com pilotos nativos. Em desvantagem numérica, os russos tentaram desengajar quando os Mig dispararam misseis R-27/AA-10 de médio alcance, sem sucesso. Os Su-27 então revidaram disparando também uma salva de R-27s, com igual resultado. Os Su-27 então recuaram enquanto um grupo de caças de ataque Su-22 etiopes foi colocado em perseguição aos Mig-29 - derrubando um deles com um R-73!

Apenas 24 horas depois os Su-27 e Mig-29 se enfrentaram novamente, trocando salvas de R-27s sem sucesso. Desta vez, os aviões ao invés de recuar se engajaram a curta distância e um Mig-29 foi abatido com tiros do canhão de um Su-27.

Dois dias depois, os dois aviões se enfrentaram de novo e dois Mig-29 foram abatidos (não se sabendo em que condições). A vingança de Eritreia viria apenas 2 meses depois com a derrubada de um Mig-23BNs, o que não foi confirmado pelas autoridades etiopes.

Ao longo daquele ano e no seguinte, os combates continuaram acontecendo, e outros dois Mig-29 foram abatidos, sendo um possivelmente abatido por um R-27 em um engajamento de curta distância.

Após 5 Mig-29 abatidos, o Su-27 não registrou nenhuma perda em combate mostrando superioridade contra o outro caça russo. Porém, devemos levar em conta o nível de treinamento do mercenários russos que os pilotavam comparado aos pilotos nativos de Eritréia que contavam apenas com apoio, em terra, de técnicos ucranianos.
Se talvez a superioridade do Su-27 pode ser questionada, o baixo desempenho dos misséis R-27/AA-10 foi notório, sendo que nenhum acerto foi conseguido fora do alcance visual - um desempenho só comparável aos AIM-7Es usados na guerra do Vietnã - o que coloca um dúvida significativa sobre a qualidade do armamento russo.

Fora isso, além de caças modernos, foi observada a utilização de tanques, misseis e artilharia modernos no conflito, inclusive com a inusitada participação de dois protótipos do helicóptero de ataque Ka-50 (!!) que atuaram do lado da Etiópia usando apenas canhões e foguetes não-guiados.

Em junho de 2000, foi acordado um cessar fogo, com o deslocamento de forças da ONU para o local do conflito, encerrando o mesmo com um saldo de mais 150.000 mortos nos dois lados.

 

 

Abaixo, duas belas fotos do Mig-29 (logo abaixo) e do Su-27 (em seguida). Projetados de modo a se complementar nas forças armadas soviéticas, o Mig-29 seria um caça tático de menor alcance enquanto o Su-27 atuaria como interceptador de longo alcance e com maior carga de armamento. Propositalmente, os misseis e aviônicos são muito semelhantes - tendo o Su-27 uma carga maior de misseis (mais que o dobro, como pode ser visto abaixo) e um radar de maior alcance (mas igualmente dependente do apoio de terra).
Apesar de apenas o Mig-29 ter uma função secundária de ataque, no conflito Eritréia-Etiópia só os Su-27 chegaram a executar missões de ataque ao solo, usando bombas não guiadas em apoio aos Mig-23BN e Su-22 etíopes.