ASSUNTO : PROJETO FX e o SIVAM

Rodolfo Queiroz, 12/11/98: 

   Venho por meio dese e-mail, parabenizar-lhe pela bela home page, abordando um assunto eltizado em nosso país:a defesa nacional.Tenho uma vasta biblioteca sobre assuntos de natureza político-militar, de onde faço minhas análisese estudos político-militares.Com  isso, gostaria de acrescentar que uma solução razoável para o projeto FX, de substituição dos nossos caças MIRAGE e F-5E, seria a fabricação sob licença de um caça já  existente no mercado, com ampla assistência técnica  e fornecimento por parte do contratado, de know-how tecnológico.Acredito, que isso diminuiria os custos, valorizaria nossa indústria aerospacial e geraria empregos, sem criar uma situação de dependência externa.Acredito que uma  parceria com a Saab sueca, para a produção no Brasil do JAS39 GRIPEN, um caça avançado, de 4a geração,seria muito viável, pois este caça está em torno de 25 milhões de dólares, ao contrário de um mirage2000-5, por exemplo, que custa a unidade em torno de 35 milhões de dólares.Além disso, os suecos oferecem uma ampla assistência, fornecimento de know-how, e um pacote com armas.O único problema é a utilização pelo JAS 39 GRIPEN, do motor F-404GE, de origem americana, e por isso, poderia ser vetado o negócio.Mas a solução, já oferecida pela SAAB, seria a adoção no GRIPEN do motor SNECMA , do Mirage 2000-5, de características  muito satisfatórias.
No mais, gostaria de saber sua opinião acerca dessa hipótese citada por mim, e parabenizo-lhe  mais uma vez.Aguardo resposta.

Guerra Moderna, 12/11/98:

Sobre o programa FX tenho uma informação que não bate com a sua. Um Gripen estaria saindo por 40 MUSD e não 25MUSD. Apesar de ser um caça relativamente pequeno, é altamente sofisticado e mesmo com a alta produtividade da indústria sueca, a escala produtiva, os custos de mão-de-obra e a xenofobia contra produtos estrangeiros jogam contra o Gripen. O Mirage 2000 sofre também alguns destes problemas, mas com a vantagem de já ter seus custos de desenvolvimento pagos (está em produção à vinte anos).Uma produção licensiada destes dois modelos é muito difícil e com certeza muito cara, pois deve cobrir o lucro potencial do país natal da aeronave que poderia estar nos vendendo os caças. A Índia produziu alguns Mirage 2000, mas este é um caso especial de um país que não compra dos EUA, tem uma demanda significativa (é um mercado estratégico comercialmente e politicamente) e que só estava disposto a uma produção licensiada. Mesmo assim, os indianos desistiram do Mirage 2000, preferindo os modelos soviéticos. Os russos poderiam oferecer o MIG-29, um caça limitado em muitos aspectos, mas dificilmente liberariam a produção sob licença do Sukhoi-27/35 (que de qualquer maneira é muito caro). A licença para o MIG-29 talvez não fosse muito cara, mas ter o russos comoparceiros na atual conjuntura da economia deles seria muito arriscado. Além disso os russos deram várias mostras de produtos de baixa qualidade e de uma assistência técnica muito ruim. Restariam os F-16 e F-18 que feitos aqui, sairiam muito mais caros do que uma compra direta. Especialmente no caso do F-16, a opçãode aeronaves de segunda mão parece bem mais vantajosa, mesmo com um upgrade incluído. No meu artigo, coloco a opção do F-20 Tigershark. Nesse caso um ponto crucial seria a parceria com a Norhrop, que não tem nenhuma opção no mercado de caças do F-16, Mirage 2000, Gripen, etc. Como sua capacidade produtiva está voltado para o mercado cativo norte-americano, o licensiamento de um país com competência técnica e custos competitivos seria interessante. Talvez, ao invés de cobrar pela licença, a Northrop poderia seria um sócio no negócio, alavancando exportações dos F-20 feitos no Brasil, o que é bem diferente. Essa opção não leva em conta apenas questões de defesa nacional, mas também comerciais e de política de crescimento industrial. Obviamente, o F-20 não é um supercaça, mas ao meu ver encaixa perfeitamente nas nossas necessidades, talvez em conjunto com um pequeno número de caças mais sofisticados (uma dúzia de Sukhoi-27, por exemplo, para interceptação e superioridade aérea de longo alcance).

Rodolfo Queiroz, 12/11/98:

Com relação à abordagem sobre o projeto FX, concordo  com sua análise, principalmente diante da conjuntura atual, de corte de gastos.Achei ótima a opção proposta por vc, de englobar uma força de F-20 multifuncionais, com uma aviônica no estado-de -arte atual,com os almejados SU-27SK, para taferas de interceptação e defesa aérea.Concordo que quanto a este último, não mais que 25 caças seriam suficientes para nossas exigências.Com relação a isso, pergunto-lhe o seguinte: -- A Argentina também planeja adotar F-16C(TALVEZ DA SÉRIE BLOCK 30), usados;o Peru, conta com uma eficiente força de Mirage 2000P, conjugados com os problemáticos Mig-29;o Chile, adiou recentemente a compra de caças para substituir os A-37; a Venezuela continua com seus F-16A/B;vê-se com isso, que se adquiridos os F-20,formando uma força tática com os AMX, o Brasil não estaria em posição de inferioridade em relação ao padrão sul-americano.Mas e as ameaças dos países ricos do Norte, com fortes olhos sobre a Amazônia? Pelo que converso com estudiosos e militares, vc mesmo deve saber, os E.U.A. planejam criar "parques florestais internacionais", sob vigilância de seus boinas verdes, na Amazônia.Assim, essa me parece ser a ameaça mais preocupante para o nosso país.Por isso, vejo com dificuldade uma parceria entre nossa indústria e a Northrop no F-20, apesar dessa ser realmente a solução ideal.

Guerra Moderna, 14/11/98:

Considerando o momento atual e futuro imediato (mais que isso é adivinhação). Podemos considerar o seguinte:
1) Nenhum vizinho do Brasil está disposto a nos confrontar com armas, principalmente por motivos políticos e economicos. O próprio conflito entre Peru e Equador, rápido e limitado enfrentou forte pressão internacional e só causou problemas e prejuízos para ambos os países.
2) O único país disposto a intervir em outro é os EUA, mesmo assim sob o aval da ONU, e aprovação da opinião pública interna. Apesar dos norte-americanos terem muita força na ONU, a prática vem mostrando que são necessárias muitas negociações com os europeus, que estão muito aversos a aventuras militares milionárias
A Amazônica é apenas um dos locais do mundo onde as potencias econõmicas querem garantir exclusividade econômica sem prestar contas aos países possuem os recursos. No nosso caso, o caminho seria tentar provar que o Brazil não tem competência para administrar a Amazônia. Primeiro, veio uma campanha de nível global de que o Brasil estava destruindo a mata amazônica, com a clara manipulação sobre organizações não-governamentais. Porém, nosso governo vêm conquistando a confiança da opinião pública mundial de que está sendo capaz de conter a devastação ecológica, o que por outro lado está travando a exploração econômica desta região. O desenvolvimento sustentado na Amazônia ao meu ver é um ponto pendente entre os problemas nacionais.O programa SIVAM, tem um papel importante na soberania da Amazonia, não para impedir a invasão deste território por uma superpotência. O que, além de ser altamente improvável como já coloquei, pediria um investimento astronômico. O SIVAM garante porém o controle do nosso território, na terra e no ar, monitorando a exploração econômica, impedindo o tráfico de drogas e a incursão de grupos terroristas de países vizinhos que para nossa vergonha se escondem em nosso território. O SIVAM, ao meu ver, também será suficiente para nos proteger dos nossos vizinhos (a ameaça é pequena, mas não deve ser ignorada). Acredito que o SIVAM dá muita credibilidade ao governo brasileiro, colocando por terra qualquer idéia de colocar forças internacionais no nosso território para proteger a Amazônia, o daria margem para uma tomada de nossos recursos por grupos internacionais sem a devida prestação de contas para com o governo brasileiro.Acho que existe muito extremismo ao se falar na Amazônia, as vezes por ingenuidade (ecologistas, por exemplo), por paranóia (de alguns militares) ou radicalismo político (da esquerda principalmente). De qualquer maneira vejo que estamos no caminho certo, apesar dos nossos problemas políticos internos.