AWACS:
O NOVO PARADIGMA

 


E-3 Sentry: peça fundamental na Guerra do Golfo e na operações sobre a antiga Iugoslávia, esta aeronave se coloca em um patamar diferenciado de todas as demais plataformas AEW&C atualmente em operação.

A importância das aeronaves AWACS na guerra moderna pode ser resumida nesta afirmação, feita pelo Ministro da Defesa da Austrália quando justificava a necessidade da aquisição desse tipo de vetor pelo seu país: " É simples, com AEW&C você vence a guerra ... sem AEW&C você perde!".

AWACS significa Sistema Aerotransportado de Alerta e Controle e AEW&C significa Alerta Aéreo Antecipado & Controle. O objetivo desse artigo, porém, não é discorrer sobre detalhes dessa tecnologia ou sobre o histórico de seu desenvolvimento, mas apenas comentar alguns aspectos do seu status atual e suas aplicações no mundo de hoje e do amanhã próximo.

 

Aspectos Gerais dos vetores AWACS: capacidades e limitações

O uso extensivo de radares fixos obrigou os aviões de ataque a realizarem suas missões a baixa atitude, abaixo do horizonte do radar inimigo. A resposta a essa tática foi o uso de radares de longo alcance instalados em aviões.
Depois, a necessidade por esses aviões foi aumentada ainda mais com o advento de misseis cruise de longo alcance (Tomakawk, por exemplo).

Um AWACS clássico, o E-3A Sentry é capaz de detectar 600 alvos voando a baixa altitude a uma distância de mais de 400km. O E-3A também é capaz de controlar cerca de 30 interceptações ao mesmo tempo, além de estar conectado "on-line" com radares terrestres e ao resto da rede de defesa. Todo esse poderio tem um custo, e bem alto, de mais de US$ 300 milhões por unidade e mesmo com o uso de reabastecimento em vôo e uma autonomia de 8 horas são necessários pelo menos 4 aeronaves para manter uma vigilância contínua de 24 horas sobre uma única região.

O alto valor dessa aeronaves, aliado à vulnerabilidade aos SAMs (misséis terra-ar) obriga que as mesmas permaneçam ao menos 150km dentro das fronteiras amigas. Além disso, a desproporção entre a capacidade de detecção (600 aeronaves) e o número de interceptações simultâneas (30 interceptações) torna necessário o apoio de terra para controlar as aeronaves amigas em vôo. O apoio de radares terrestres também é desejável, visto que os radares dos AWACS são otimizados para detectar alvos rasantes, sendo deficientes na detecção de alvos voando mais alto que os AWACS (9.000 metros, no caso do E-3A Sentry).


O advento de misseis cruise de vôo rasante trouxe uma nova ameaça que aumentou a necessidade
de aeronaves AWACS (na figura:
AGM-86B norte-americano)

A evolução da tecnologia de detecção trouxe novas possibilidades e opções, inclusive para nações de menor poderio bélico. Para melhor compreender essas possibilidades, iremos dividir as aeronaves AWACS em 3 categorias:

- Alto Requisito
- Médio Requisito
- Baixo Requisito

 

AWACS de Alto Requisito

Esse grupo de aeronaves atende necessidades de conflitos de alta intensidade, com várias centenas de aeronaves em vôo simultâneamente e no apoio a forças de ataque na projeção do poderio aéreo ( a Guerra do Golfo é um bom exemplo). O volume de detecções e principalmente de links de comunicação exige aeronaves de grande porte e grande número de operadores em ação ao mesmo tempo (14 no caso do E-3).

Talvez o único exemplo nessa categoria seja o E-3 Sentry, que teve sua capacidade demonstrada em combate na última década. O alto custo dessa aeronave pode ser verificado pelo pequeno número de aeronaves em uso:
- US Air Force (34)
- Reino Unido (7)
- França (4)
- Arábia Saudita (5)
- OTAN (18): disponíveis para uso multinacional, especialmente em apoio a operações da ONU.

O A-50 Mainstay e o E-2 Hawkeye se propôe a atender aos mesmos requisitos do E-3 Sentry, porém as limitações tecnológicas do exemplar russo e as restrições de espaço/autonomia na aeronave da US Navy, restringem-nas a categoria de médio requisito, que veremos a seguir.

 

AWACS de Medio Requisito

Basicamente, as aeronaves desta categoria são capazes de realizar as mesmas tarefas da categoria acima mas em escala reduzida. Geralmente, essas aeronaves são apenas utilizadas em funções defensivas de alerta antecipado e operando mais próximos de bases amigas.

Entre as aeronaves mais utilizadas encontram-se o E-2 Hawkeye e o A-50 Mainstay, que utilizam também a tecnologia, já clássica, do radome giratório. O desempenho inferior e a maior dependência de apoio terrestre (ou do CVN, no caso do E-2) tem impacto significativo no custo (US Navy opera nada menos que 150 aeronaves, além de 30 operadas por 5 outros países).

Outra aeronave que demonstra um futuro promissor é a adaptação do Boeing 767 para AWACS, que já foi escolhido pela Austrália como plataforma AEW (fruto da preocupação com os MIG-29s e Su-27 da Malásia e Vietnam, respectivamente).

O advento da tecnologia em radares de varredura sintética (phased array radars) trouxe novas possibilidades em pequenas plataformas AWACS. Seu uso foi iniciado pelos israelenses em adaptações de 707s receberam pequenas encomendas do Chile e da China.

O grande salto, contudo, veio com o sistema "Erieye" da Ericsson. Criado dentro dos requisitos da Força Aérea Sueca de um sistema aerotransportado que se torna-se parte integrante do sistema StriC-90 de comando e controle.
O radar é instalado sobre a fuselagem da aeronave (veja ilustração abaixo) e pesa apenas 1200Kg, garantindo um alcance de pouco menos de 200Km contra misseis cruise, em condições ideais. A solução sueca atende a uma necessidade estritamente defensiva, usando um vetor Saab 340 (um bimotor semelhante ao Brasília da Embraer) que apenas pré-processa os dados que são analisados em terra.

Dentro dos requisitos do projeto SIVAM, a FAB optou por uma aeronave maior (EMB-145) e com maior capacidade de processamento e análise dos dados. Com um custo de aquisição inferior ao dos sistemas clássicos de radome giratório, o sistema da Ericsson também permite o uso de aeronaves menores. Isso permitirá ao Brasil adquirir 5 aeronaves EMB-145 AEW. A Grécia também acaba de adquirir a aeronave e o México já demonstrou interesse no vetor da Embraer para o combate ao tráfico de drogas.


EMB-145 AEW: a combinação entre o avião da Embraer e o sistema Erieye da Ericsson abriu um mercado antes
inexplorado por outras plataformas AEW&C em países em desenvolvimento.

Aeronaves de Médio Requisito estão se tornando acessíveis a forças aéreas menores e logo se farão presentes em confitos de menor intensidade no Terceiro Mundo. Cedo ou tarde, também veremos conflitos em que os dois lados farão uso de vetores AWACS.

 

AWACS de Baixo Requisito

Deixamos essa categoria para dois exemplos de aeronaves AEW que se limitam ao alerta antecipado em missões defensivas de pequena autonomia.

O primeiro exemplo é de uma aeronave de asas rotativas, o Westland Sea King AEW. Resultado da experiência britânica na Guerra Falklands/Malvinas, levou a adaptação do radar "Seachwater" (que por sua vez é uma modificação do radar usado no Nimrod MR.2 ASW) num domo inflável em um suporte rotativo fixado na lateral do helicóptero. Operando a cerca de 185km da nave-mãe, Sea King dispõe de cerca de 2 horas de autonomia. As limitações de carga útil penalizam o desempenho do sistema de detecção que depende do porta-aviões para processamento de dados e controle de interceptação, mas mesmo assim o sistema tem boa performance contra atacantes a baixa altura e misseis anti-navio.
A Royal Navy opera 8 aparelhos (3 por porta-aviões) e a Marinha Espanhola contratou 3 conversões de SH-3s para AEW.

Outro exemplo interessante é a adaptação do radar APG-66SR em um Pilatus Britten-Norman Defender, um pequeno bimotor de 16 lugares. O APG-66SR é uma versão do APG-66 do F-16A com uma antena 2.5 vezes maior e um alcance ar-ar de 148Km e detecção de 100 alvos simultâneos, em condições ideais. Além de alerta aéreo antecipado esse radar permite vigilância terrestre (com o recurso MTI - moving target indicator) e marítima (detectando inclusive, pequenos botes de madeira).
Essa versão do Defender interessou o US Army como possível substituto do OV-1 Mohawk no patrulhamento da fronteira entre as Coréias do Sul e do Norte, onde os alvos mais prováveis seriam AN-2 Colts e helicópteros MD-500 tentando infiltrar comandos na Coréia do Sul. Nada de concreto se ouviu até agora.

O AWACS de Baixo Requisito é uma opção interessante para pequenas forças aéreas ou como uma força complementar de AEW em forças aéreas de poderio grande ou médio. O uso do APG-66SR (ou similares) em dirigíveis ou pequenas aeronaves (Learjets, Bandeirantes, etc) em funções combinadas ASuW/AEW será muito útil em tarefas defensivas (proteção de aeroportos e centros industriais) ou no patrulhamento em tempo de paz.
A China já optou por esse caminho e irá utilizar aeronaves Y-8 (uma versão do An-12) equipadas com radares Searchwater na função ASuW/AEW em combinação com aeronaves A-50 Mainstay.

 

Combatendo os AWACS

Até o momento, nenhum AWACS foi derrubado em combate mas muito se debate sobre as maneiras pela qual isso poderia ser feito. O uso de aeronaves de alta velocidade em grande altitude e disparando misseis de longo alcance parece ser a solução mais óbvia para esse problema.
O MIG-31 russo, equipado com mísseis R-37 de 300Km de alcance (!) parece ser a aeronave mais preparada para a função "anti-AWACS". Porém, tanto essa como outras aeronaves de alto desempenho com mísseis BVR estariam sujeitas a pesadas perdas ao tentar penetrar na área protegida pelos caças de escolta do AWACS inimigo.

Fica claro que o AWACS se tornou peça fundamental da guerra moderna e se tornará cada vez mais comum, mesmo nos conflitos de menor intensidade. Cabe assim, uma parabenização às autoridades militares brasileiras que se mostraram lúcidas ao incluir dentro do projeto SIVAM esta capacitação à nossas forças armadas.